sábado, 26 de agosto de 2017

O RSI DA "POBREZA SEVERA"


O mesmo Governo que ainda não reverteu por completo o SIRESP por falhas criminosas, resolveu reverter mais uma medida do anterior executivo. Qual é ela? Aquela que limitava o acesso ao RSI de pessoas com carros, avionetas, barcos e contas bancárias com mais de 25000€. O que alegou então Vieira da Silva para reverter esta medida? Que estas condições não invalidavam a existência de “pobreza severa”. Muito bem. Dito isto ficamos a saber que pobreza severa também atinge quem tem bens e contas com milhares de euros. A sério? Não estou aqui a dizer que ficar sem trabalho não é dramático. É. Mas se eu ficar sem trabalho e tiver 25000€ no banco ou um bem nesse valor, eu não sou pobre. Estou, sim,  em dificuldades e isso é outra coisa. Ficar desempregado mas ter bens que me permitem dar a volta por algum tempo à minha situação, não é pobreza severa. Porque essa folga vai me permitir aguentar por algum tempo este azar. Pobreza é não ter absolutamente nada a que recorrer assim que falha o salário.
O perigo desta medida, mesmo que possa abranger poucas pessoas, é a mensagem que passa aos que labutam diariamente, alguns de forma árdua, 8 horas por dia quando não é mais, muitas vezes por apenas um salário mínimo. É a revolta dos que se veem a sustentar medidas que convidam ao laxismo autorizado por um Estado frouxo e incompetente que mais não quer do que engrossar a plateia de apoiantes à custa dos que trabalham. É a desmotivação que se interioriza nos que sempre se fizeram à vida mesmo quando a vida não se fez a eles. E isso compromete o futuro de um país.
Quando a vida resolveu ser madrasta comigo a primeira medida foi colar avisos nos supermercados com “faz-se limpezas e passa-se a ferro”. Não demorou sequer um mês para ter o meu primeiro cliente. Como o desemprego atingiu dois membros da família em simultâneo, a venda de alguns bens e desactivação de serviços que pesavam no final do mês, como a MEO, entre outros, foi a medida seguinte. Entretanto reestruturou-se toda uma vida que até ali era muito confortável. A alívio financeiro foi quase imediato. Recorrer ao RSI nunca foi posto na mesa antes de experimentar outras vias. Porquê? Porque desde menina que me ensinaram a pescar e não a viver da pesca dos outros. Só recorreria ao Estado se todo o resto falhasse. 
Como empregadora constatei o desastre que estas e outras medidas idênticas provocaram na sociedade. Recordo aqui uma senhora que respondia ao meu anúncio de emprego e estava desesperada por trabalho. Dizia que já lhe iam cortar a luz e água. Que tinha 3 filhos. Que recebia refeições da AMI. Depois da entrevista em sua casa, contratei-a. Chorou, agradeceu agarrada a mim. Confronta-me com o problema de não ter dinheiro para transportes sequer. Resolvi adiantar uma soma pequena que lhe descontaria depois. Por iniciativa minha, paguei a conta da luz e água desse mês. Comovida por inesperada iniciativa, chorou de emoção. Quando chegou o dia, não apareceu ao trabalho. Também perdi a conta aos que vinham com folha do Centro Emprego “só para carimbar” diziam eles. Ou daqueles que vinham a mando do IEFP mas que diziam que só ficavam se pudesse acumular o subsídio desemprego com ordenado. Ou aqueles que chegavam pelo IEFP e tudo faziam para desagradar e fossem recambiados para o desempregoPor isso, recorria a estrangeiros para trabalhar. Por isso há falhas graves de mão de obra com milhões de portugueses a viver de ajudas sociais. Isto é um facto.
A sociedade que estamos a construir com estas medidas será uma sociedade medíocre incapaz de fazer frente a qualquer adversidade sem ser amparada, ou pelos pais ou pelo Estado. Serão futuros cidadãos que mesmo com canas de pesca ao seu lado, morrerão de fome. E chegamos a isto porque desde o berço, a partir de certa altura, instituiu-se que as pessoas não se podem frustrar e educamos à socialista os nossos próprios filhos. Depois, ficamos surpreendidos porque não se fazem à vida ou porque temos uma sociedade de delinquentes.
Mas o mais curioso e anedótico disto é que os beneficiados do RSI não são os que mais precisam porque esses têm SEMPRE dificuldade em provarem que são pobres. Exemplos? Os idosos a quem lhes é negado essa ajuda de forma escandalosa só porque os filhos, dentro dos seus parcos rendimentos,  os ajudam a pagar algumas contas.  Já os que vivem em comunidades nómadas, a venderem em feiras e com a MEO nas barracas, os acumulam.
Critérios de “pobreza extrema” que jamais entenderei nem aceitarei.

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