quinta-feira, 4 de maio de 2017

UM GOVERNO DE ESQUERDAS A GOVERNAR À DIREITA

Se me dissessem em Outubro de 2015, quando Costa deu uma reviravolta aos resultados das eleições e juntou-se aos derrotados para fazer governo, que esta “coligação”, passado quase dois anos, iria governar literalmente à direita, deixando cair todos os seus estandartes eleitorais, esmagando ideologias apregoadas por décadas, diria claramente que era impossível. Dou a mão à palmatória! Está a ser inédita e brilhante esta actuação governativa que ao contrário de muitos, a mim agrada-me imenso. Porquê? Ora, porque assim fazem menos asneirada… Óbvio!
Decidir governar à direita não terá sido uma opção fácil e louvo-lhes a espinha dorsal que tiveram de quebrar literalmente para se ajustarem como minhocas às novas ideologias. Partidos que fizeram do incremento ao investimento público e consumo privado  sua bandeira macroeconómica para derrubar o anterior executivo, prometendo por esta via o fim da austeridade, colocarem depois nos mínimos históricos, esta rubrica, em Portugal e UE, é obra!  Para não falar do controlo obsessivo do défice que foi muito além da Troika (onde foi que eu no passado ouvi isto?) e cujo o entusiasmo é tanto que até já querem chegar a 2020 superavit! Muito bom! E a vassalagem prestada aos banqueiros com as ajudas a “fundo perdido” à banca? Não eram eles que diziam que “nem mais um cêntimo” à banca apoiariam? Pois… Por acaso não foi um cêntimo. Foram milhões de euros.
Junta-se a isso o Relatório do Grupo de Trabalho sobre a sustentabilidade da dívida de que fizeram parte o PS e BE com a exclusão do PCP. Neste documento assumiram que são necessárias medidas de consolidação orçamental, que é preciso ajustar as politicas económicas e orçamentais para tornar a dívida pública sustentável, aceitaram que uma solução ao problema passa por uma negociação com Europa e BCE, dando como alternativa à resolução da dívida, uma extensão dos prazos de pagamento. Não é fantástico ver estas esquerdas a curvarem-se às regras dos tratados europeus, deitando para o caixote de lixo o Manifesto dos 74 de que eram protagonistas?  Quem diria…
De facto, quando no passado esganiçavam-se pelo perdão da dívida, expeliam os bofes sempre que se referiam à política monetária do BCE, vê-los agora de mãos dadas com este projecto europeu chega a ser enternecedor. Porém, não nos podemos iludir. Isto  não passa de um jogo de poder. Porque o “lobo vestiu pele de cordeiro” para se encostar à sua vítima, o PS,  e conseguir coligar verdadeiramente como ele, retirando futuros dividendos, caso isso venha a acontecer, num crescimento de poder e ocupação na máquina do Estado. Enquanto o PCP continua nesse sentido mais genuíno, estas minhocas do BE, muito astutas, não se importam de vender alma ao diabo, isto é, governar agora à direita,  para alcançar qualquer objectivo. E o objectivo é claramente tomar conta do poder. Não fosse isso, porque razão se subjugariam?
O mais irónico disto tudo é que agora, governar à direita é bom a ponto de nem sequer os sindicatos contestarem verdadeiramente esta posição na mudança de ideologias. Lançam apenas pequenos avisos suaves de que é preciso virar à esquerda novamente. Nada que abale esta “tranquilidade balofa” em que vivemos.
São os “tempos novos” onde vale tudo…

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