segunda-feira, 15 de maio de 2017

O QUE ELES QUEREM É APARECER

E lá estavam eles, Ferro, Costa e Marcelo, depois de fecharem a tasca à nação  mais cedo, a receberem o Papa Francisco com honras de Estado numa visita que não era de Estado. O Costa até alertou o cronista que só poderia ficar a tomar conta dos seus filhos ( que amoroso!) pela manhã porque depois seguia para Fátima. Não podia falhar o encontro (ele que nunca vai à missa).   Um gesto aliás muito bonito de propaganda mas que mais uma vez soou a marketing puro (que rica novidade!). Então e os outros cidadãos à rasca sem terem onde pôr os filhos? Só servem para pagar impostos? Quem pensa nesses? (ninguém, claro!). Mas pronto,  e lá foi ele…  até porque não sendo um “Papa selfie” como nosso querido Presidente, estar ao lado deste símbolo da fé cristã é bonito  e quem sabe arrasta mais uns votos extra (duvido muito!).

Marcelo que deveria ter sido o único a comparecer porque a ele lhe cabe esse papel,  com o entusiasmo de um verdadeiro crente e homem de fé, não conseguiu moderar o abanar do braço de sua Santidade que quase esgaça sob o ar algo incómodo de Francisco que muito provavelmente se perguntava em silêncio, “já paravas, não?”, de tanta emoção sentida. Sentimentos genuínos de um homem verdadeiramente crente e católico praticante.  Estava, esse sim, no lugar certo.
Os outros dois,  ateus, agnósticos, laicos, hereges e maçons assumidos, a governarem em coligação com comunistas (alguém se lembra dos ataques à Igreja no PREC?), que defendem por um lado um Estado laico mas expropriam friamente a privados para financiar com dinheiros públicos  (algo inédito e nunca visto em relação a outras religiões)  a construção de uma mesquita em Lisboa, e portanto ligados a tudo quanto é luta contra esta prática religiosa, mostraram sem o querer e numa dimensão astronómica,  o quanto o ser humano pode ser hipócrita para manipular e construir uma imagem à custa, neste caso,  da religião. Sabendo eles da importância do Papa na vida dos católicos, em lugar sagrado como Fátima, estenderam a máquina eleitoral transformando um evento espiritual num circo mediático só para aparecer. Um nojo.
Nasci numa família profundamente cristã que todos os domingos se vestia a preceito para ir à missa sem falhar uma. Estudei em escolas católicas no Canadá e cá num colégio de padres.  Fui várias vezes a Fátima e em todas, sem saber porquê, a emoção tomou sempre conta de mim. Contudo à medida que fui crescendo não consegui segurar esta minha natureza crítica de quem não se conforma com o vê. Apesar de ser uma mulher de fé e profundamente espiritual, passei a questionar sem obter respostas que me levassem a consolidar a minha crença. Se hoje não sou praticante é por culpa dos homens da Igreja que teimam em encher o mundo mais de palavras que de acções. E tal como na política, não aceito a inércia de quem tem todo o poder mas não o usa como deveria em prol dos outros. Contudo, continuo fiel aos ensinamentos católicos que aplico no meu dia a dia escrupulosamente abominando toda a hipocrisia existente nos que se dizem praticantes e são simplesmente umas bestas.
Por isso, se não suporto num cristão este comportamento dúbio, revolto-me ainda mais quando vejo os políticos de velinha na mão e nas missas do Santo Padre! Porque Fátima, meus senhores,  não é o lugar dos que passam o tempo a atacar os católicos, que gozam com suas crenças, que não respeitam a sua devoção. Fátima é um lugar de fé, de culto onde não há espaço para quem não sente e vive em Deus. Estar nos dois lados é estar em nenhum.
E sinceramente, se tivessem só um poucochinho de vergonha faziam de tudo para não aparecer.

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