quinta-feira, 4 de maio de 2017

O GALAMBISMO

Há uma nova corrente ideológica “made in” Portugal. Depois do comunismo, liberalismo, socialismo e outros tantos “ismos”, eis que neste nobre país de descobridores, inventou-se o Galambismo. O conceito é simples: defender qualquer coisa hoje (mesmo que indefensável) para contradizer amanhã se for necessário, consoante os ventos e as marés, usando todos os argumentos à mão por muito ridículos que sejam, fazendo-os parecer válidos e inteligentes, nem que seja à custa do insulto ou rebaixamento intelectual do opositor. Esta nova ideologia política, inspirada noutra já extinta, o Socratismo, despontou para servir a Geringonça na sua propaganda política. Serve essencialmente para propagar ideias feitas, por vezes sem nexo, para delas fazer umas “grandes verdades”  depois de repetidas até à exaustão. Confusos? Eu explico.
Num exemplo prático, é a mesma teoria de que se servem os nossos queridos adolescentes lá em casa quando, querendo fazer valer seus “direitos”, apanhados em falso a mentirem ou a fazerem asneiras,  argumentam tudo e mais alguma coisa para nos convencerem a mudar de ideias ou a justificarem o acto ilícito, usando explicações que vão da estória da Carochinha à do Robin dos Bosques, sem pestanejarem e convictos que estão a ter um discurso “mega” inteligente, válido e coerente. Estão a ver o filme? Quem é pai destes “piquenos” sabe do que falo.
O Galambismo é a consequência de vir directamente das universidades para o Parlamento sem passar pela dureza da vida activa, o que leva estes adultos a viverem num estado permanente “da adolescência”, protegidos pelo “lar” que os “acolheu”, sem nunca terem tido possibilidade de crescer em experiências profissionais  à custa da severidade do dia a dia dos comuns mortais.
Sem conhecimento de causa no terreno, os Galambistas, essas criaturas ainda na “puberdade profissional”,  conseguem defender, por exemplo,  que a sustentabilidade da dívida pública se resolve com o aumento dos dividendos pagos pelo Banco Portugal ao Estado. E dizem-no com o ar mais sério do mundo. Ora, sabendo que se o BP não constituísse mais provisões até 2023  o Estado arrecadaria 5,75 mil milhões de euros, estes  apenas dariam fôlego para 7 meses tendo em conta que em 2016 a dívida pública aumentou 9,5 mil milhões!!! E continua a aumentar… No fundo é o mesmo que pôr um penso rápido numa hemorragia arterial.
Se queremos recuperar a nossa soberania temos de seguir outros caminhos que ponham fim ao descontrolo  da dívida pública e consequentemente conseguir baixá-la com reformas estruturais corajosas. Estancar o mal definindo na nossa Constituição um tecto para o endividamento para que não haja possibilidade de derrapagens inesperadas futuras. Cumprir com as amortizações. E depois, com um percurso  a não falhar com as nossas obrigações, não faltará espaço para negociações num futuro próximo com as instituições europeias no âmbito de uma possível reestruturação da dívida, devidamente apoiada pelos nossos credores.  Quem não se lembra das palavras de Schauble sussurradas a Gaspar onde lhe prometiam mais ajuda se fosse preciso? Porque sem a confiança de quem nos emprestou, confiança essa que só se consegue demonstrando vontade em honrar acordos (como foi o caso de Vítor Gaspar  e Maria Luis Albuquerque) jamais conseguiremos recuperar a soberania que perdemos por termos desfalcado as finanças do país. É preciso não esquecer que se estamos hoje  nas mãos dos credores foi porque levamos o país por 3 vezes a uma pré-falência. É obra! Só isto já nos coloca numa posição de desconfiança. Se juntarmos, “relatórios de sustentabilidade da treta”, numa altura em que se reverteu tudo e mais alguma coisa sem critérios nem almofada financeira, temos o cenário ideal para que todas as agências de rating e investidores sintonizem os radares na posição de “perigo à vista”.
O problema dos Galambistas é que, por muito que se explique isto, jamais entenderão devido à sua natureza de cigarras que planeia tudo para o curto prazo. Não conseguem ter uma atitude de poupança para prevenir futuras intempéries. Tudo é pensado ao momento e depois logo se vê. Acontece que ninguém sabe o que vai acontecer quando o BCE deixar de comprar dívida portuguesa e num futuro tão incerto, é importante o país ter uma boa almofada financeira. Já sabemos que cabe ao Estado português as decisões sobre as provisões mas cabe também ao Estado evitar tomar posições que não resolvem absolutamente nada em termos estruturais, só pontuais, recorrendo DE NOVO a medidas extraordinárias para resolver uma questão que não sabe ou não quer resolver: o aumento galopante da dívida pública portuguesa.
Ir às provisões do Banco de Portugal é fazer cosmética com as poupanças do país.

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