segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Portugal Arrisca Tragédia com Sismos

Há 20 anos que especialistas dizem o mesmo: Portugal vai ser atingido por um sismo. Não sabem prever se vai ser já amanhã, para o ano que vem ou daqui uns anos mais. Sabem apenas que este fenómeno é cíclico e pelas contas feitas ao de 1755, a previsão aponta para o ano de 2018. Mário Lopes, investigador especialista em engenharia sísmica do Instituto Superior Técnico (leia aqui a entrevista completa) já perdeu esperança nos Governos para impedir a tragédia.  Nada de novo num Estado que não protege seus cidadãos senão seus próprios interesses. Mas quanto nos vai custar em vidas esta irresponsabilidade grotesca dos governos? Muitos milhares.
Mário Lopes é peremptório: não se sabe quando, nem com que intensidade, nem tão pouco as consequências de um próximo sismo, mas uma certeza prevalece. Vai ser certamente trágico. Receia a repetição de 1755 porque mesmo que seja de menor intensidade provocará muitas mais mortes porque as zonas de risco estão mais povoadas. Não é preciso um sismo como de 1755 para termos 10 000 a 20 000 vítimas. Factos.
Segundo o mesmo, bastaria o respeito pelo actual regulamento para minimizar os danos. Embora obsoleto com mais de 30 anos, ser aplicado já era bom. Hoje quem não tem consciência pode aldrabar o projecto sem ver consequências. Sabem que fazendo bem ou mal um edifício, é vendido  na mesma.  Mas o maior problema reside nos edifícios reabilitados.  Porque a legislação técnica  prevê que um edifício anterior a 1958, que tinha um grau de  protecção zero na resistência sísmica, não lhe seja aplicada legislação posterior de reabilitação à construção original. Assim, fazem apenas um “peeling” nos edifícios antigos – o que é perfeitamente legal –  que continuam com protecção sísmica igual a  zero. Nesta realidade estão 40% dos edifícios construídos antes de 1960. 
Mário Lopes fez uma proposta ligada aos seguros para que as companhias fizessem seguros indexados à componente de risco sísmico ( nos Açores, por exemplo, está indexado ao crédito habitação). Assim, as pessoas através dos seguros iriam ver o risco da sua construção e isso iria influenciar o mercado valorizando, obviamente, as melhores. Porém, quando isso foi discutido com um governo mandaram-no calar porque isso iria desvalorizar os prédios piores, mostrando uma insensibilidade pela vida humana em detrimento do mercado imobiliário. Depois em 2012 propôs que o reforço sísmico fosse obrigatório em edifícios a partir de certo valor e dimensão. Foi rejeitado.
Os alertas de Mário foram sempre atendidos mas na prática deitados ao lixo. E foram bastantes. O primeiro ocorreu com a governação de  Guterres onde enviou documentação a todos os grupos parlamentares. Mas nada aconteceu. Mais tarde só CDS pegou no dossier e fez um Projecto de Resolução entregue na AR, mas não chegou a ser votado porque acabou a legislatura. Seguiu-se posteriormente o  PCP que pela mão de Miguel Tiago, mudou apenas  o preâmbulo do projecto do CDS – o que prova que o projecto era bom – e o leva a discussão. Demorou 2 anos a ser discutido. Entrou em 2006 na AR mas só foi a votação em 2008 onde todos votaram a favor excepto PS. Foi chumbado. Mário Lopes, mesmo assim, não desistiu e em 2010 volta a pressionar a AR. Com PS  em minoria, é aprovado. Finalmente. O projecto aprovado previa entre outros que o reforço sísmico passasse a ser obrigatório na reabilitação urbana. Mas ironicamente a sua NÃO APLICAÇÃO foi feita pelos mesmos que o aprovaram. Em suma, ficou tudo EXACTAMENTE na mesma.
O poder político devia dar o exemplo ao preocupar-se com os edifícios públicos. Mas o Estado que temos que não se preocupa sequer com os cidadãos foi a correr reforçar a AR assim que lhes foi dito que a parede da sala de sessões colapsaria em caso de sismo. São estes que nos governam:  preocupados com sua pele mas ignorando os restantes 10 milhões de seres humanos desprotegidos e à sua sorte.
Mário Lopes não tem dúvidas que assim que houver uma tragédia sísmica o poder politico vai dizer “que não é altura da caça às bruxas” para evitar que se apurem as responsabilidades (tal e qual como em Pedrógão, lembram-se?). Porém os sismos não matam. O que mata são as construções mal feitas. Segundo este, mesmo com limitações económicas, se tomássemos precauções, mesmo com sismo forte haveria 10 vezes menos estragos e menos vítimas.
Há 20 anos que este especialista diz o mesmo mas sem resultados. Sem decisões politicas para implementar a prevenção, tudo fica igual, ou seja sem protecção. E na situação actual, se formos atingidos por um sismo forte de grandes dimensões, não há  protecção civil que nos valha. Será uma catástrofe. Porque é na prevenção que salvamos vidas. 
Enquanto os governos viverem em negação assobiando para o lado como o fizeram com a prevenção INEXISTENTE para fogos florestais, e nós fingirmos que não nos importamos com isso, a tragédia que foi vivida com incêndios em Pedrógão e 15 de Outubro, multiplicar-se-à brutalmente à custa de vidas inocentes que irão sucumbir nas mãos criminosas de quem nos governa. 
O que está disposto a fazer para mudar isto?

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