sexta-feira, 21 de abril de 2017

DESRESPONSABILIZAR? NUNCA!

A viagem de finalistas a Espanha deixou muita gente chocada. E com razão. Não é todos os dias que somos manchete com uma expulsão de 1000 alunos de um hotel por destruição. É inevitável o repúdio por tamanha estupidez protagonizada por jovens de 17 anos. A “brigada do costume” não tardou a desresponsabilizar estas pobres criaturas culpando o álcool, a organização, o hotel, a “tenra idade” e sabe-se lá mais o quê só para desculpabilizar os “pequenotes”. Tadinhos. De facto são umas pobres vítimas desta sociedade que não os compreende quando tudo não passa de “excessos de diversão mal calculada”. Nada que já não tenha acontecido no passado, logo,  perfeitamente justificável. Será?
Há dois tipos de pais: aqueles que confiam cegamente nos filhos; que acham que seu papel se resume a impedir que sintam frustrações; que querem ser os melhores amigos, e pais do Mundo; não conseguem dizer “não” e sentem-se tristes quando o fazem;  que vivem exclusivamente para os “rebentos” a ponto de não os largar  nem um minuto; sofrem imenso com as distâncias por isso têm de manter um contacto constante; desculpam tudo porque tudo tem sempre uma justificação menos por falha. São pais “hiper” protectores vulgo corujas.
Depois há os outros: que desconfiam de tudo; estão sempre atentos às manobras; não se deixam levar nem sensibilizar com facilidade; frustram-nos com mais “nãos” que “sins” como treino para a vida e não se culpam por isso; não se importam de serem os maus da fita; controlam, exigem, responsabilizam; são acima de tudo educadores por isso sabem que o papel de melhor amigo nunca será seu, nem pode ser; soltam-nos para a vida porque sabem que são do Mundo e não deles; sofrem com as distâncias mas não o demonstram porque o que importa é a felicidade dos filhos mais que a deles; protegem à distância como quem não quer a coisa. São os pais fortaleza. E eu, incluo-me neste último.
Sou mãe de três “pequenos”. Uma com 30 que já voou há muito. Muito bem sucedida. Os outros dois, uma com 17 outro quase 11,  continuam debaixo do meu comando. Rédea curta. Muito curta. Não há cá cenas do adolescente rebelde ou benjamim mimado: ambos sabem que é tempo perdido. Porque aqui há regras. Duras. Mas são preciosas ferramentas para a vida. São crianças felizes mas com limites. Sabem o certo e o errado desde o tempo da fralda e consoante foram crescendo, apenas fui acrescentando mais deveres. Sabem que quem cumpre tem recompensa, logo, esforçam-se por não desiludir. Se o risco é pisado já sabem: “vai haver milho” mas não se chateiam. Sabem que faz parte do “contrato” ter castigo quando há falhas no cumprimento das regras: será uma semana sem tlm, uns ténis que não se ganha, mas será essencialmente uma aprendizagem que eles não esquecem e passarão aos filhos. E digam o que disserem, a educação que se leva de berço, influencia as condutas futuras.
É sabido que numa viagem de finalistas há sempre vários culpados. Porque para acontecer tamanho escândalo tinha de haver falhas e isso não pode ser ignorado. Começa pelos pais que de tanto que querem proporcionar aos filhos, não os deixam amadurecer o suficiente antes de lhes oferecer a sua primeira viagem de sonho. Miúdos com apenas 17 anos em grandes grupos soltos num país estrangeiro, só por si deveria ser o suficiente para os papás dizerem “não!”. Porque aqueles pais  que não se esqueceram do que foram, sabem o quanto é fácil ir além das regras, o quanto é perigoso viajar em grandes grupos, o quanto se é influenciável e impreparado para viajar nestas circunstâncias quando se é adolescente. Por outro lado, mostram ingenuidade ao não saber acautelar os interesses das crianças assinando contratos de cruz sem se certificarem do conteúdo. É sabido que as organizações têm muitas vezes comportamentos ilegais e sem salvaguarda há perigos. Como se pode deixar filhos com estranhos sem garantias? Depois as escolas que não se certificam da idoneidade de quem promove estes eventos sem verificar background das outras viagens e respectivos feedbacks. Por último e não menos importante, os jovens, que, por falha na educação, não sabem estar, não sabem divertir-se, não distinguem o certo do errado levando tudo pela frente em nome da diversão.
Estas situações podem ocorrer com os filhos de qualquer um de nós quando todos os requisitos se juntam para a catástrofe mesmo com a melhor educação. Mas o certo é que se todos os pais exigissem na mesma proporção, mais difícil seria nascerem no grupo “pequenos terroristas irresponsáveis”.
Desresponsabilizar é um erro crasso porque perpetua os comportamento erráticos no jovem. E uma sociedade que não sabe educar jamais terá adultos responsáveis e de carácter.

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